Por Vítor Ventura
Eles me encontraram no pior momento da minha vida e levaram R$ 50 mil”. O relato é de Alessandra Fernandes, 49, vítima de um golpe. A moradora de Águas Claras contou ao Jornal de Brasília que em um momento de dor e vulnerabilidade, logo após perder o marido, criminosos aplicaram o golpe do falso advogado.
Os golpes, sobretudo os virtuais, têm sido um motivo de grande preocupação para os brasilienses. Segundo dados da Serasa Experian referentes ao primeiro semestre deste ano, o Distrito Federal liderou em taxa de tentativas de golpes por habitante, com 8.119 ocorrências por milhão de habitantes.

Além disso, muitos golpes vêm ficando cada vez mais articulados e até quem tem cuidado redobrado pode se tornar vítima. Foi o caso da Alessandra. Depois de ficar viúva, ela entrou na Justiça para quitar uma moto que estava no nome do marido.
“Eu recebi uma mensagem da advogada dizendo que tinha saído um processo, eles mandaram até um documento. Eu estava muito acelerada, muito agitada com a morte do meu marido. Eles [golpistas] fizeram uma chamada de vídeo, mas sem aparecer direito. Então pediram para que eu entrasse na minha conta e fizesse transações. Eu fiz o PIX para umas três pessoas e paguei umas contas. Depois que passa, você vê a doideira que você fez na sua vida”, relatou Alessandra.

Na angústia de terminar o processo prometido pelos criminosos, Alessandra fez um empréstimo de R$ 33 mil. Segundo ela, os golpistas possuíam todos os dados dela e da advogada. “Depois ela [a advogada verdadeira] me ligou dizendo que tinha saído uma sentença. Eu imediatamente perguntei se ela já não tinha me ligado. Ela disse que não, então eu percebi que tinha caído em um golpe”, explicou.
Além do prejuízo material, Alessandra contou que o impacto emocional foi muito grande. “Infelizmente me pegou na pior fase da minha vida. Eu estava tão mal que eu não sabia se conseguiria seguir em frente”, disse. O caso dela aconteceu em março deste ano. Até hoje ela não conseguiu o dinheiro de volta e segue pagando as parcelas do empréstimo.
Cartilha aponta cuidados
Para evitar que casos como o da Alessandra aconteçam, a Defensoria Pública da do Distrito Federal (DPDF) lançou uma cartilha na última quinta-feira (13) para orientar a população quanto aos golpes mais comuns e ensinar como agir ao se deparar com um.
“Mais do que alertar sobre fraudes, o material busca empoderar a população com informação”, resumiu o diretor da Escola de Assistência Jurídica (Easjur) da DPDF. “A educação em direitos é a melhor forma de prevenir danos e garantir o respeito ao cidadão”, acrescentou.
Autora da cartilha, a defensora pública Bianca Cobucci Rosière enfatizou que informação é a primeira forma de proteção, especialmente em um momento em que os golpes se multiplicam. “Na minha atuação profissional, observei de perto como a falta de orientação transforma situações simples em perdas significativas, e é justamente dessa experiência que nasce a cartilha: um instrumento de esclarecimento e prevenção”, explicou.
A cartilha “Golpes, bancos e planos de saúde”, que pode ser acessada no site da DPDF, destaca práticas como descontos indevidos da aposentadoria, o golpe do falso motoboy, negativas de plano de saúde e aumentos abusivos. Uma das fraudes, o golpe do falso defensor público, se assemelha bastante ao do falso advogado sofrido por Alessandra.
O que fazer
A cartilha mostra que os bancos são muito utilizados por golpistas. Descontos indevidos, empréstimos inexistentes e até o golpe da selfie (quando utilizam os dados pessoais da vítima, como CNH e foto) são comuns. Nesses casos, a DPDF orienta que sejam feitas reclamações no Portal do Consumidor e no Banco Central contra a instituição financeira pela qual foi executado o golpe, além do registro do Boletim de Ocorrência (BO).
Outro golpe comum é o do motoboy do banco. A vítima recebe uma ligação aparentemente oficial na qual um suposto funcionário pede dados por conta de uma compra suspeita. Na sequência, o criminoso pede para que o cartão de crédito seja entregue a um motoboy. De acordo com a DPDF, isso nunca é feito por instituições
financeiras. Se alguém pedir seu cartão ou sua senha, desligue imediatamente, orienta a cartilha.
No caso de golpes envolvendo o PIX, a DPDF alerta que o tempo é o principal aliado para recuperar o dinheiro. Nessas situações, a defensoria aponta o Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Banco Central. Com essa ferramenta, os bancos podem bloquear e devolver valores transferidos indevidamente, aumentando as chances da vítima reaver a quantia perdida.
Falso advogado e defensor
A cartilha alerta ainda sobre o golpe do falso defensor, no qual criminosos entram em contato com as vítimas se passando por defensores públicos, servidores ou estagiários da DPDF. Os golpistas apontam, através do WhatsApp, que existem processos, dívidas ou benefícios e pedem pagamento por PIX ou transferência.
O golpe do falso advogado segue uma linha parecida. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), os criminosos utilizam documentos falsos e técnicas de persuasão sofisticadas. Nesses casos, é indispensável guardar provas e registrar um BO. Para o do falso advogado, a OAB-DF disponibiliza em seu site oficial um formulário no qual vítimas e advogados podem comunicar tentativas de fraude.