CLDF debate condições de trabalho dos metroviários do DF

Diante do aumento de incidentes graves envolvendo a infraestrutura e a segurança do sistema metroviário do Distrito Federal, a Câmara Legislativa realizou uma audiência pública, na manhã desta quinta-feira (7), para debater a precarização das condições de trabalho dos funcionários da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF). No encontro, presidido pelo deputado Fábio Felix (Psol), representantes da categoria apontaram a deterioração das instalações e a desvalorização dos servidores como principais fatores que provocaram o crescimento de problemas operacionais no metrô desde 2020.

Entre janeiro e abril deste ano, o Metrô-DF registrou 25 falhas que interromperam a circulação do transporte, incluindo interferências técnicas e paralisações por manutenção. Em 2024, três trens pegaram fogo por superaquecimento e falhas elétricas. Atualmente, o sistema metroviário conta com 32 trens em operação que atendem cerca de 160 mil usuários por dia. De acordo com os funcionários do metrô, parte dos veículos está sucateada e alguns estão parados por falta de manutenção. 

Fábio Felix criticou o projeto de ampliação do metrô que desconsidera solucionar os problemas que o sistema já enfrenta atualmente. “As tragédias que vivemos no metrô, nos últimos anos, eram anunciadas e previsíveis. Os trabalhadores e os sindicatos já apresentaram esses problemas inúmeras vezes, alguns que vivemos e outros que ainda podemos viver”, frisou.
 

Deputado Fábio Felix (Foto: Ângelo Pignaton/CLDF)

O parlamentar definiu alguns encaminhamentos para tentar atender as reivindicações dos metroviários. As medidas incluem uma reunião com o procurador-geral de Justiça do DF e a procuradora-geral do Ministério Público do Trabalho para debater as condições de trabalho da categoria, além da realização de uma assembleia com funcionários e usuários do metrô para incentivar a mobilização em defesa do transporte público.
 
Sobrecarga

Há 12 anos a companhia não realiza concursos públicos para contratação de funcionários. O último processo seletivo foi realizado em 2013, que ofertou 232 vagas para níveis médio e superior. Segundo Neiva Lopes, diretora do Sindicato dos Metroviários (SindMetrô-DF), os servidores que operam o sistema metroviário estão sobrecarregados, trabalhando mais de 9 horas por dia, sem folga, e sem perspectivas de apoio para manter o transporte em circulação. “Nós tivemos que assinar um acordo coletivo com esses trabalhadores que atuam nove horas e meia por dia para cumprir o compromisso com público usuário, para o metrô não fechar”, relatou. 
 

Neiva Lopes, diretora do Sindicato dos Metroviários (Foto: Ângelo Pignaton/CLDF)

A diretora do SindMetrô-DF, destacou, ainda, que além da sobrecarga, os metroviários lidam com perigos frequentes nas estações e nos trens, o que tem afetado a saúde mental da categoria nos últimos anos. “O quadro de doenças mentais chega a 80% [dos funcionários] do metrô por causa das péssimas condições de trabalho”, disse Neiva Lopes. “Nós temos, na área de estação, cancelas abertas. Não têm empregados para abrir as bilheterias. A área da segurança trabalha sem equipamento”, listou.

O deputado Max Maciel (Psol), reforçou a necessidade de rever o plano de cargos e salários dos metroviários do DF para reestruturação de funções e remunerações da categoria. “Tem metroviários aplicando para outros concursos, para receber menos e ter condição de trabalho. O metrô não se faz só com energia, trem e estação. Ele só funciona se tiver pessoas”, salientou o parlamentar.

Privatização

Durante a reunião, Neiva Lopes destacou que os índices de investimentos no metrô são os menores desde 2019. “Os valores destinados ao metrô, além de baixos, não são 100% efetivados. Ou seja, é uma precarização para justificar a privatização. Nós sabemos que o discurso do GDF é que o metrô não dá lucro, que dá prejuízo. Em lugar nenhum no mundo, metrô é feito para dar lucro”, frisou.

Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e ex-deputado distrital, defendeu que o metrô do DF não deve ser privatizado, podendo operacionar com qualidade com investimentos do governo. Grass citou países como Chile, França e China, como exemplos de sistemas metroviários estatais reconhecidos mundialmente pela eficiência e segurança.
 

Leando Grass, presidente do IPHAN (Foto: Ângelo Pignaton/CLDF)

“Essa fantasia de que precisa ser privado para ser de qualidade está enterrada, debaixo já dos escombros. Não há mais o que se falar sobre isso, porque nós temos exemplos concretos de que a gestão estatal com participação social, governança séria e investimento contínuo de médio e longo prazo garante um serviço de qualidade”, salientou Grass.

Representantes do Metrô-DF foram convidados para participar da reunião, mas não compareceram. A audiência pública desta quinta-feira (7) foi transmitida pela TV Câmara Distrital, nos canais 9.3 (aberto), 11 da NET/Claro e 09 da Vivo, e está disponível no canal da CLDF no Youtube.

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