DF lidera renda média do país, mas mantém maior desigualdade social, aponta IBGE

O Distrito Federal volta a ocupar posição de destaque em um ranking que expõe um dos principais desafios sociais da capital do país. Dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2025, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2024, mostram que o DF mantém o maior rendimento médio do trabalho do Brasil, estimado em R$ 4.889. Ao mesmo tempo, registra o maior Índice de Gini da Região Centro-Oeste, de 0,547, indicador que mede a desigualdade na distribuição de renda.

O Índice de Gini varia de zero a um e, quanto mais próximo de um, maior a concentração de renda. No caso do Distrito Federal, o número reforça um cenário conhecido pela população: a convivência entre áreas de alta renda, concentradas sobretudo na região central, e regiões administrativas marcadas por vulnerabilidade social, menor oferta de serviços públicos e dificuldade de acesso a oportunidades.

Apesar de apresentar indicadores positivos: como a menor taxa de analfabetismo do país, de 1,8%, e a queda da taxa de desocupação para 9,7% em 2024,  o DF segue como a unidade da federação mais desigual. Segundo o levantamento, 15,3% da população vive com renda abaixo da linha da pobreza, percentual que se manteve estável em relação a 2023 e representa o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. Ainda assim, a redução da pobreza não foi suficiente para diminuir o abismo entre ricos e pobres.

O mercado de trabalho reflete desigualdades estruturais. Em 2024, o Distrito Federal tinha 2,44 milhões de pessoas em idade de trabalhar, das quais 1,47 milhão estavam ocupadas e 158 mil desocupadas. O nível de ocupação foi de 60,3%, enquanto a taxa composta de subutilização da força de trabalho chegou a 19,3%.

O recorte etário mostra que a desigualdade começa cedo. Entre jovens de 14 a 29 anos, a taxa de desocupação alcançou 17,2%. As disparidades também se aprofundam nos recortes de raça e gênero: a taxa de desocupação entre pretos e pardos foi de 10,7%, contra 7,8% entre brancos. Entre as mulheres, o índice chegou a 12%, enquanto entre os homens ficou em 7,8%.

Mesmo sendo a unidade da federação com maior nível de escolaridade da população ocupada, 79,2% com pelo menos o ensino médio completo, o DF não conseguiu converter esse avanço em redução significativa da desigualdade. Apenas 67,4% das pessoas ocupadas estavam em empregos formais.

A concentração de renda se torna ainda mais evidente quando observada a distribuição dos rendimentos. Em 2024, homens brancos no Distrito Federal ganharam, em média, R$ 7.757 por mês, valor 2,4 vezes superior ao rendimento médio das mulheres pretas ou pardas, estimado em R$ 3.170. A diferença se repete ao longo de toda a série histórica analisada pelo IBGE. A desigualdade também aparece na remuneração por escolaridade: trabalhadores com ensino superior completo receberam, em média, R$ 51,60 por hora, enquanto aqueles sem instrução ou com ensino fundamental incompleto ganharam R$ 13,60.

Outro indicador que reforça o abismo social é a razão entre os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres. No DF, os 10% com maiores rendimentos ganham, em média, 15,2 vezes mais que os 40% com menores rendimentos. Para o professor de sociologia do Ibmec Brasília, Nauê Bernardo Azevedo, esse dado ajuda a explicar o paradoxo vivido pela capital. “Os altos salários pagos a uma elite elevam a média geral, enquanto a maior parte da população permanece próxima ou abaixo da renda média nacional. Essa disparidade não representa a realidade global do DF”, afirma.

Segundo o sociólogo, a concentração de renda no topo da pirâmide, associada à fragilidade econômica da base, sustenta os altos níveis de desigualdade. “Quando incluímos as regiões administrativas e o entorno, fica evidente que esses rendimentos elevados não representam o conjunto da população”, avalia. Para ele, o Distrito Federal funciona como um espelho do Brasil, ao reunir extremos de renda, acesso a bens e serviços em um mesmo território.

A origem dessa desigualdade tem raízes históricas. “O DF foi planejado como espaço do poder político federal e de moradia de seus servidores. Desde a construção de Brasília, houve o apagamento das populações mais vulnerabilizadas”, afirma Azevedo. Ele destaca que os programas sociais atuam como mecanismos de contenção, mas não enfrentam as causas estruturais do problema. “Sem os benefícios, o Índice de Gini subiria ainda mais, o que mostra que essas políticas mitigam os efeitos, mas não atacam as raízes da desigualdade”, pontua.

A desigualdade racial também se impõe como um dos principais traços do cenário do DF. Entre os 10% mais pobres, 71,6% são pretos ou pardos; entre os 10% mais ricos, 66% são brancos. Para o professor de mercado financeiro do Ibmec Brasília, Marcos Sarmento, o dado evidencia um problema estrutural. “Ao longo dos anos, a educação de qualidade foi acessível a uma camada específica da população. Como consequência, os concursos públicos absorveram esse mesmo estrato, formado sobretudo por homens brancos”, explica.

Sarmento lembra que a própria formação urbana de Brasília contribuiu para aprofundar essas desigualdades. “O Plano Piloto concentrou investimentos e valorização imobiliária, afastando quem não tinha renda suficiente para morar na região”, analisa. Mesmo com avanços educacionais, ele avalia que a desigualdade seguirá elevada por várias gerações. “É um processo lento, que exige investimentos contínuos em educação, saúde, moradia e transporte”, afirma.

Os dados do IBGE reforçam que o principal desafio do Distrito Federal não está na geração de riqueza, mas na forma como ela é distribuída. E para enfrentar esse desequilíbrio é fundamental para garantir desenvolvimento social mais justo e qualidade de vida para toda a população da capital.

Fonte Original

Matéria Anterior

CLDF comemora aniversário de Arapoanga

Próxima Matéria

Escola de Saúde Pública do DF recebe apoio federal para ampliar cursos e residências

Escreva seu comentário

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossa newsletter

Receba no seu e-mail as notícias mais relevantes do dia, rápido, fácil e gratuito.
Inscreva - Se

Não enviamos spam ✨Ao se inscrever em nossa newsletter você concorda com nossa política de privacidade.
Total
0
Share