Estudo aponta os caminhos para o futuro do Setor Comercial Sul

Por Amanda Karolyne

Com o objetivo de revitalizar o Setor Comercial Sul (SCS), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF), em parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB), realizou uma pesquisa que aponta os possíveis caminhos para a melhoria do local. A primeira fase do estudo, denominado “Diagnóstico do Setor Comercial Sul (SCS)”, integra ações assistidas pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). O objetivo é transformar a área em um pólo criativo e tecnológico. Mais de 30 pesquisadores da UCB atuam no projeto, em parceria com o Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (CIP) da Universidade de Brasília (UnB).

O professor Alexandre Kieling, coordenador da pesquisa, explicou à equipe de reportagem do JBr que o estudo atende às demandas do governo, da prefeitura do SCS e das pessoas que por lá atuam. Ele afirmou que o governo está realizando uma série de ações, entre elas, as da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH) com a revitalização das áreas públicas. Além disso, será levado para o local um centro integrado da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI-DF) também está atuando com várias iniciativas já em andamento.

Uma delas é o estudo que, como ele explicou, abrange três etapas. A primeira é o diagnóstico, que foi entregue no começo de dezembro. O objetivo é dar um norte para entender quantos agentes estão lá, qual é o perfil deles e o que seria importante para atender às demandas de quem está lá atualmente. A segunda etapa é mais prática, de maneira que possam ser identificadas propostas de todas as estruturas normativas, para que seja organizado como funcionaria o polo criativo tecnológico, que tipo de sustentabilidade teria, como se desenvolveria o plano de negócio, o plano de gestão e um plano de longo prazo.

Segundo Alexandre, a primeira fase do diagnóstico revelou uma alta taxa de ociosidade no SCS. A pesquisa cruzou o registro de 5.500 CNPJs ativos com o número de pontos de energia efetivamente em uso (cerca de 3.200). O professor destacou que isso significa que há mais de 2.000 empresas com domicílio fiscal no local, mas que não estão fisicamente lá. Para ele, a desocupação é visível para todos que passam por lá. “Você tem lá entre os 110 prédios, pelo menos 100 prédios que estão totalmente desocupados, aproximadamente 50% dos prédios com uma ociosidade da ordem de 30%”. A análise também revela que mais de 60% dos negócios que de fato atuam no local são micro e pequenas empresas, e a maior parte (quase 70%) está concentrada na área de serviços, que inclui desde restaurantes e saúde até atividades criativas, como produtoras e agências.

O alto índice de desocupação e o abandono de áreas públicas, de acordo com o coordenador do estudo, têm provocado uma forte sensação de insegurança, agravada pela presença de pessoas em situação de vulnerabilidade. No entanto, ele afirmou que o diagnóstico revelou uma contradição importante. O professor salientou que os números de registros policiais no Setor são menores do que em outras regiões do DF. Além disso, não há registros altos de crimes mais violentos na comparação com outras áreas. “Na prática, os números de atividade de violência ou de criminalidade são menores do que em outros lugares, mas a sensação de insegurança, ela é grande, até por causa dessa sensação de abandono”, ressaltou.

Ainda de acordo com o coordenador, a pesquisa apontou que os empresários locais têm plena consciência da necessidade de se qualificarem e de capacitarem seus funcionários. Entretanto, foi identificado que o que mais aparece como solução é o desenvolvimento de um polo criativo e tecnológico. Para Alexandre, bastaria um direcionamento dos programas de inovação e empreendedorismo que já existem, mas que nunca chegaram ao conhecimento desses pequenos agentes do SCS. “Isso já representaria uma mudança, uma possibilidade de mudança nas atividades econômicas por lá”, afirmou. Outra sugestão em destaque foi a criação de uma “rua 24 horas” para atrair público noturno, manter o movimento e a iluminação. Além disso, os empresários sugeriram um reposicionamento dos ambulantes, não para eliminá-los, mas para gerir a concorrência com o comércio estabelecido.

Alexandre destacou ainda, que o estudo apontou cinco áreas predominantes dentro do projeto de revitalização. A área com foco na ativação das atividades comerciais já existentes é a primeira. Nela, estão incluídas a análise de negócios e formação de empreendedores, com foco na viabilização dessa “rua 24 horas”. Segundo o professor, o sucesso dessa rua depende de uma reconfiguração do modelo de negócios. “Ela só terá sucesso se efetivamente houver uma reconfiguração do modelo dos negócios que já existem, no sentido de qualificar e direcionar esses negócios para conseguir trabalhar essa jornada de 24 horas”, pontuou. A segunda e terceira áreas propostas integram as atividades artísticas e culturais e a criação de um centro gastronômico, com o objetivo de evitar a repetição de modelos já vistos, criando um espaço que valorize a culinária e as iguarias do Cerrado.

Com o foco na transformação do Setor em um um pólo criativo e tecnológico, o professor apontou a necessidade de criar três hubs de inovação: um hub de games, que seria de desenvolvimento de jogos eletrônicos; um hub de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs); e um hub de produção e pós-produção audiovisual. O coordenador ressaltou a urgência deste último, afirmando que é algo em falta no DF. “Para o nível e o volume de produção que a gente tem é extremamente necessário”, acrescentou. Segundo o coordenador, essa estrutura ajudaria a finalizar longas-metragens dentro do DF, criando um ecossistema completo para a área. “Então, essas são as propostas concretas apresentadas nesse relatório”, concluiu.

Modelo de revitalização

Toda essa empreitada envolvendo o SCS, para o professor, mostra a importância do projeto que reside na união inédita de quatro forças para resolver um problema complexo. “A gente está conseguindo fazer um movimento em que a quádrupla hélice está funcionando”. Esse termo se refere a parceria entre o setor público, o setor produtivo, a sociedade civil e a academia universitária. Para ele, mais do que resolver um problema local e revitalizar um espaço tão importante para o DF, o objetivo dessa ação vai além, pois pretende criar um modelo replicável. “Brasília é uma síntese do Brasil. O Setor Comercial Sul é uma síntese de Brasília”, afirmou. Para ele, se a partir desse estudo e das ações futuras, toda a parceria resultar no desenvolvimento de um modelo de revitalização económica, social e cultural, a consequência vai ser a criação de um protótipo para replicar em todas as regiões administrativas e para replicar em outros estados.

Ele completou, descrevendo que o conceito central da revitalização é transformar o SCS em um “terroir” – termo francês que representa a ideia de um “território com identidade”. A ideia é que tudo que for produzido lá receba um selo específico do Setor Comercial Sul, criando um valor simbólico importante. “Isso vai nos dar identidade, vai criar um significado, um valor simbólico para que esse valor simbólico seja um valor agregado.” O projeto conta com o engajamento de diversas secretarias de governo, demonstrando um envolvimento total do poder público no processo.

Ações do governo 

Segundo a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF), as ações da Secti-DF integram o conjunto de medidas e iniciativas feitas pelo Governo do Distrito Federal com o intuito de ressignificar uma região tão importante da área central de Brasília. A pasta citou como exemplo, a Unidade Integrada de Segurança Pública, construída pela Secretaria de Segurança Pública, e as reformas feitas nos estacionamentos públicos e nas quadras, executadas pela Secretaria de Obras e Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh-DF). 

O projeto de revitalização do SCS integra o programa Desafio DF, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e tem o apoio da Secti-DF, com o objetivo de propor uma intervenção estruturada no Setor Comercial Sul. 

A autarquia destacou que o diagnóstico é a base técnica e estratégica que vai orientar a transformação do Setor Comercial Sul. A pesquisa realizada, com metodologias qualitativas e quantitativas e participação de mais de 500 empresários, permitiu identificar os principais desafios da região, como a sensação de insegurança, retração do fluxo de pessoas e enfraquecimento das atividades econômicas. “Esses dados direcionam as decisões futuras e permitem construir um plano sólido de revitalização, zoneamento e governança participativa”, disse a pasta em nota. 

Para a Secti, a relevância científica e social do diagnóstico elaborado pela UCB e UnB, se dá por meio do mapeamento preciso e aprofundado dos desafios e oportunidades do Setor Comercial Sul. A pasta ressaltou a importância da abordagem interdisciplinar e também, a  participação ativa dos empreendedores locais. “O estudo confirma a urgência de ações integradas que combinem urbanismo, tecnologia, economia criativa e inovação – áreas diretamente alinhadas às políticas conduzidas pela Secretaria.” Para a Secti-DF, os resultados fortalecem o compromisso do governo com a revitalização do centro de Brasília e evidenciam o potencial transformador do projeto do Polo Criativo Tecnológico.

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